domingo, 18 de março de 2012

CRISE DO CIDADÃO: HEROÍSMO OU OMISSÃO?


                      Uma reportagem de telejornal mostrou a premiação oferecida aos professores que tiveram algum diferencial criativo em seu trabalho, no ano de 2011. Um dos projetos desenvolvidos chamou minha atenção: tratava de uma professora de escola infantil, educadora de crianças de três e quatro anos, que recebeu uma aluna surda. Ela aproveitou a grande oportunidade que a vida lhe ofereceu e ensinou a linguagem de sinais para todas as crianças da classe.
                Depois que desliguei a televisão, refleti que grande tesouro representou este ato para a sociedade.  A ideia é simples e grandiosa, ao mesmo tempo. As crianças que frequentaram essa classe na escola sempre serão especiais para a sociedade. A menina surda que sensibilizou a professora jamais será esquecida.
                E por que não pensar na linguagem de sinais como estudo obrigatório nas classes iniciais? Ou como uma matéria complementar em algum nível escolar? Os ventos da sociedade inclusiva estão soprando neste momento. É necessário que voltemos nossa atenção para a pequena parcela de pessoas que tem necessidades especiais, e que está em dificuldades coma falta de acessibilidade.
                Outra reflexão interessante é a violência escolar.  Outro dia, troquei ideias com uma professora, que estava muito preocupada com um fato que aconteceu na escola onde leciona. Ela relatou que houve a necessidade de chamar a polícia, os pais dos alunos envolvidos e, ainda, excluir da escola os estudantes envolvidos no incidente.            Perguntei se houve algum trabalho, no plano das ideias, com os alunos que não se envolveram no episódio. Ela disse que a escola estava se esforçando para esquecer o assunto. Então, questionei se essa seria a melhor maneira de tratar com a situação, já que a atitude poderia banalizar a violência.
Por que não explorar a criatividade dos bons alunos da escola, trazer o assunto à tona e buscar, junto aos estudantes, novas formas de lidar com a violência? Abrir espaço para discussão, e encarar o problema com responsabilidade, pode ser um tesouro na vida dos estudantes. Quem sabe, essa escola poderia até ser premiada com a diminuição da violência!
                Penso que deixamos a “coisa rolar”, com nossa omissão. Isso acontece com qualquer cidadão que não tem consciência do espaço que ocupa, e do quanto pode fazer a diferença na sociedade. Todos somos pais, alunos ou professores em algum momento de nossa história.
                A professora que foi premiada pela ideia de ensinar Libras para as crianças poderia ter deixado aquela menina quietinha em um canto da sala. Ela poderia ter feito de conta que estava tudo bem, que a turma se relacionava bem com a criança, mesmo sem que ela conseguisse se comunicar com os demais. Entretanto, a professora não fez isso. Ela não se omitiu frente à adversidade. Acredito que ela tenha “suado a camisa” para fazer o que fez, e é esse tipo de atitude que faz falta, o tempo todo, em nossa sociedade: atitudes individuais, de cidadãos comuns.
                Não digo que essas iniciativas não existam por aí! Sei que os heróis ocultos estão em todos os lugares, e que, infelizmente, nem sempre são reconhecidos ou premiados. Fazem por fazer, por sentirem-se no dever de auxiliar o planeta a crescer. O mundo precisa de menos omissão e de mais ação, quanto se trata de construir algo próximo do conceito de justiça. Precisamos refletir sobre o nosso mundo, antes que ele se torne inaceitável para todos nós.