Tempo de Colheita
Eu
planto as minhas sementes na terra. Ela alimenta e protege os meus futuros
frutos. Eu confio no amadurecimento que o tempo e o conhecimento proporcionam.
A
enxurrada de ontem transbordou a terra de contentamento. A água desceu pelo
córrego como vibrante corredeira e lavou toda a tristeza que a estiagem
provocou. Hoje voltou a chover, mas desta vez foi uma chuva calma, como
lágrimas de felicidade.
Antes
da chuva eu estava pensando nos frutos de meu plantio, enquanto via fumaça ao
longe. Os vizinhos reclamavam da seca por causa do fogo. Aqui, o único fogo que
ardia era em meu coração, pois estava apaixonado por uma mulher casada, fruto
de um encontro que não acabava. Sempre era a última vez, o último beijo, tudo
último.
Pensarei
um dia em respirar? Apenas sorverei um pouco de ar, como as plantas fazem e
nunca deverão nada a ninguém? Por que esta ânsia de vida sempre sustentará a
falta de algo? Será que sempre sentirei falta de ar? Sempre os amores
impossíveis. Ai de mim! Seguirei o ar e voarei para bem longe um dia? Ai de
mim! Colherei os amargos frutos de uma vida impulsiva e apaixonada?