domingo, 22 de abril de 2012

QUATRO ELEMENTOS EM QUATRO TEMPOS


Tempo de Colheita
                Eu planto as minhas sementes na terra. Ela alimenta e protege os meus futuros frutos. Eu confio no amadurecimento que o tempo e o conhecimento proporcionam.
                A enxurrada de ontem transbordou a terra de contentamento. A água desceu pelo córrego como vibrante corredeira e lavou toda a tristeza que a estiagem provocou. Hoje voltou a chover, mas desta vez foi uma chuva calma, como lágrimas de felicidade.
                Antes da chuva eu estava pensando nos frutos de meu plantio, enquanto via fumaça ao longe. Os vizinhos reclamavam da seca por causa do fogo. Aqui, o único fogo que ardia era em meu coração, pois estava apaixonado por uma mulher casada, fruto de um encontro que não acabava. Sempre era a última vez, o último beijo, tudo último.
                Pensarei um dia em respirar? Apenas sorverei um pouco de ar, como as plantas fazem e nunca deverão nada a ninguém? Por que esta ânsia de vida sempre sustentará a falta de algo? Será que sempre sentirei falta de ar? Sempre os amores impossíveis. Ai de mim! Seguirei o ar e voarei para bem longe um dia? Ai de mim! Colherei os amargos frutos de uma vida impulsiva e apaixonada?

DIA DE FAXINA


Lembro que morei em uma casa simples, de madeira, com peças amplas. No dia da semana em que a minha mãe, fazia a faxina, eu sentia o cheiro adocicado da cera que ela utilizava para lustrar o piso novinho de madeira.
                Neste piso encerado, eu e meu irmão brincávamos com um velho pano de lã. Minha mãe sabia das brincadeiras e propositadamente entregava-nos a tarefa de lustrar todo o chão.
                Eu, toda sorridente e pequenina, sentava no pano de lã. Meu irmão agarrava duas pontas daquele tecido, de forma a transformá-lo em uma “cadeirinha” para mim. Voávamos pela casa com muitos gritos e risadas. Meu irmão gostava de fazer curvas durante a brincadeira, pois então eu me desequilibrava e caía para os lados. Ele tinha cuidado de não me deixar bater em nada, mas eventualmente eu caía e batia com a cabeça. Eu sabia que ele não me derrubava para machucar, mas algumas vezes a brincadeira terminava com o meu próprio choro.
                Outra brincadeira gostosa que fazíamos durante a atividade de lustrar o chão era uma espécie de corrida de quatro pés. Colocávamos quatro panos sobre os joelhos e as mãos. Saíamos apostando corrida naquela posição, de quatro pés no chão. Esta brincadeira também tinha uma variação de pé, quando colocávamos dois panos ou um só bem grande, sobre os dois pés. Nesta brincadeira corríamos e dançávamos como dois bailarinos treinados.
                Ao término do dia de limpeza dormíamos exaustos com as estrepolias que aprontávamos.
                O chão de minha casa brilhava e cheirava bem. A cada dia de faxina eu e meu irmão oferecíamos-nos para auxiliar novamente. Eram dias gostosos de brincadeiras.