domingo, 9 de setembro de 2012

MORTE NA PRAÇA DA ALFÂNDEGA


Inspirado nos meninos de rua
                Foi encontrado morto na Praça da Alfândega um jovem homem. Aparentemente tinha a idade de 15 anos. Os freqüentadores diários e ambulantes dizem que ele estava sempre por ali, pedia esmolas, fazia programas como michê, praticava pequenos furtos e dormia na praça a noite.

                O exame pericial do corpo registrou grande quantidade de elementos químicos que compõem o crack. O óbito registra parada cardíaca.

                Paulo nasceu abençoado por Deus. Uma criança forte e saudável irrompe do útero de sua mãe.  A mãe não resistiu ao parto. Sangrou muito e deixou esta vida sem conhecer o próprio filho.

                O pai compareceu drogado para retirar o filho. Era conduzido pelo braço por uma senhora que dizia ser avó. Assim Paulo saiu do hospital, sem muita pompa. Dona Margarida, avó de Paulo, já cuidava de cinco netos. Os três irmãos do bebê e mais dois abandonados por outra filha que estava na vida.

                Ela viu que não tinha condições de cuidar de mais um bebê e pediu ajuda para a sua irmã mais chegada. Esta irmã lembrou de uma sobrinha que morava em outra cidade e que não conseguia ter filhos. Assim Paulo mudou de endereço pela primeira vez.   
       
                Foi entregue na casa de Cátia com uma mísera trouxinha de roupa que continha algumas fraldas e uma única troca. Cátia pegou o bebê e acariciou o seu rostinho. Infelizmente Cátia tinha problemas neurológicos e logo começou a surrar menino.

                Todos os dias Paulo apanhava desde que se conhecia por gente. Às vezes não tinha motivo algum. Ele tinha muito medo. Uma vez, quando já estava na escola, uma professora viu as marcas no corpo do menino e fez um estardalhaço. Chamou a polícia, Conselho Tutelar e a mãe de Paulo para conversar. Isto é que o menino mais temia. Sabia que ia apanhar mais forte naquele dia.

                Um dia Paulo saiu para ir à escola e não voltou pra casa. Resolveu ficar pela rua. Já que ia apanhar mesmo, preferia protelar a surra. Assim o menino cada vez voltava mais tarde para casa, até que um dia não voltou. Dormiu fora. Conheceu amigos na rua que lhe ofereceram cola para cheirar. Logo apresentaram o crack também.

                O menino se deliciava com a nova vida de aventuras. Quando não tinha cola ou crack, pedia esmolas para comprar. Como era um moleque franzino, despertava compaixão nas pessoas. Dizia que era para comprar comida para a sua mãe.

                Um dia Paulo voltou para casa e sua mãe bateu a porta na sua cara. Disse que ali não era mais a casa dele. Paulo não tinha mais para onde voltar e ficou nas ruas. Os moleques que eram seus amigos lhe apresentaram o “protetor”.  O protetor era um homem de meia idade que vendia drogas e usava os meninos para ganhar dinheiro. Ele protegia os meninos na praça para que eles ficassem ali pedindo dinheiro e distribuindo as drogas.

                Paulo tornou-se um dos meninos “protegidos”. Ficou um bom tempo nesta situação até a adolescência, quando começou a ter problemas com a polícia. O protetor disse que ele precisava “trabalhar” para comprar a droga por que ele não daria de graça. Assim começou a vida de michê para Paulo e ele logo conheceu a AIDS.

                Pela primeira vez o jovem foi cadastrado em um poso de saúde pública para receber o tratamento. Ele não conseguia seguir as recomendações e surgiram os primeiros sintomas. Febre, tosse, pneumonia, tuberculose. Ele ficou um mês no hospital público e voltou para a rua.

                A partir dali ele resolveu se drogar sem parar, pois havia perdido qualquer noção de realidade e sentido de existência.

Um comentário:

  1. Infelizmente essa é história retrata a história de muitos outros meninos e meninas que crescem sem estrutura familiar a não ser a estrutura da RUA!

    A humanidade ainda caminha com passos de formiga em relação a problemas como esse e ainda é fútil e alienada demais para conviver enxergando de verdade que o mundo é preto e branco pra muita gente!!

    ResponderExcluir