Inspirado nos meninos
de rua
Foi
encontrado morto na Praça da Alfândega um jovem homem. Aparentemente tinha a
idade de 15 anos. Os freqüentadores diários e ambulantes dizem que ele estava
sempre por ali, pedia esmolas, fazia programas como michê, praticava pequenos furtos e dormia na praça a noite.
O exame
pericial do corpo registrou grande quantidade de elementos químicos que compõem
o crack. O óbito registra parada
cardíaca.
Paulo
nasceu abençoado por Deus. Uma criança forte e saudável irrompe do útero de sua
mãe. A mãe não resistiu ao parto.
Sangrou muito e deixou esta vida sem conhecer o próprio filho.
O pai
compareceu drogado para retirar o filho. Era conduzido pelo braço por uma
senhora que dizia ser avó. Assim Paulo saiu do hospital, sem muita pompa. Dona
Margarida, avó de Paulo, já cuidava de cinco netos. Os três irmãos do bebê e
mais dois abandonados por outra filha que estava na vida.
Ela viu
que não tinha condições de cuidar de mais um bebê e pediu ajuda para a sua irmã
mais chegada. Esta irmã lembrou de uma sobrinha que morava em outra cidade e
que não conseguia ter filhos. Assim Paulo mudou de endereço pela primeira vez.
Foi
entregue na casa de Cátia com uma mísera trouxinha de roupa que continha
algumas fraldas e uma única troca. Cátia pegou o bebê e acariciou o seu
rostinho. Infelizmente Cátia tinha problemas neurológicos e logo começou a
surrar menino.
Todos
os dias Paulo apanhava desde que se conhecia por gente. Às vezes não tinha
motivo algum. Ele tinha muito medo. Uma vez, quando já estava na escola, uma
professora viu as marcas no corpo do menino e fez um estardalhaço. Chamou a
polícia, Conselho Tutelar e a mãe de Paulo para conversar. Isto é que o menino
mais temia. Sabia que ia apanhar mais forte naquele dia.
Um dia
Paulo saiu para ir à escola e não voltou pra casa. Resolveu ficar pela rua. Já
que ia apanhar mesmo, preferia protelar a surra. Assim o menino cada vez
voltava mais tarde para casa, até que um dia não voltou. Dormiu fora. Conheceu
amigos na rua que lhe ofereceram cola para cheirar. Logo apresentaram o crack
também.
O
menino se deliciava com a nova vida de aventuras. Quando não tinha cola ou
crack, pedia esmolas para comprar. Como era um moleque franzino, despertava
compaixão nas pessoas. Dizia que era para comprar comida para a sua mãe.
Um dia
Paulo voltou para casa e sua mãe bateu a porta na sua cara. Disse que ali não era
mais a casa dele. Paulo não tinha mais para onde voltar e ficou nas ruas. Os
moleques que eram seus amigos lhe apresentaram o “protetor”. O protetor era um homem de meia idade que
vendia drogas e usava os meninos para ganhar dinheiro. Ele protegia os meninos
na praça para que eles ficassem ali pedindo dinheiro e distribuindo as drogas.
Paulo
tornou-se um dos meninos “protegidos”. Ficou um bom tempo nesta situação até a
adolescência, quando começou a ter problemas com a polícia. O protetor disse
que ele precisava “trabalhar” para comprar a droga por que ele não daria de
graça. Assim começou a vida de michê para Paulo e ele logo conheceu a AIDS.
Pela
primeira vez o jovem foi cadastrado em um poso de saúde pública para receber o
tratamento. Ele não conseguia seguir as recomendações e surgiram os primeiros
sintomas. Febre, tosse, pneumonia, tuberculose. Ele ficou um mês no hospital
público e voltou para a rua.
Infelizmente essa é história retrata a história de muitos outros meninos e meninas que crescem sem estrutura familiar a não ser a estrutura da RUA!
ResponderExcluirA humanidade ainda caminha com passos de formiga em relação a problemas como esse e ainda é fútil e alienada demais para conviver enxergando de verdade que o mundo é preto e branco pra muita gente!!