Todos os dias pego o mesmo trem. O trem faz o mesmo trajeto
todos os dias. Viajo com pessoas de diferentes tipos todos os dias.
Uma
vez, em um dia comum, igual a todos os dias, o trem parou entre duas estações,
nos trilhos, e não abriu as portas. Os passageiros que nunca interagem uns com
os outros, trocaram olhares significativos. Alguns demonstravam medo, outros
indignação e um olhar, em especial, esboçou um matreiro sorriso: era uma
criança.
A
condutora do trem avisou pelas caixas de som, que a linha estava com problemas
técnicos e ela recebera orientação para aguardar alguns minutos.
Um
homem começou a reclamar em voz alta, para todos ouvirem, que o trem era uma
porcaria, que nada funcionava direito e que a passagem estava muito cara. Outros
passageiros reclamaram para fazer coro com aquele homem. O ambiente ficou tenso
e desagradável.
Busquei
o olhar da criança e percebi que ela chorava. Quando cruzou o seu olhar em
lágrimas com o meu, devolvi-lhe o sorriso anterior. Imediatamente ela parou de
chorar e ficou séria me olhando. A mãe entregou-lhe uma bolacha e ela comeu
vorazmente. Imediatamente pediu outra para a mãe.
Eu
observava aquele universo de pessoas que conversavam entre si e surpreendi-me
feliz naquele momento, trancado em um vagão parado sobre os trilhos. Não me
importei em estar atrasado e com fome. Tentava premeditar quantas amizades
estavam nascendo a partir da pane no trem. Talvez algum casamento? Quem sabe!
Ao
término de 15 minutos, ouvi a voz da condutora anunciar que o problema técnico
estava solucionado e poderíamos partir. Algumas pessoas conversavam
animadamente e não ouviram a boa notícia. Surpreenderam-se quando o trem
começou a andar. No primeiro solavanco todos aplaudiram e gritaram vivas ao
trem.
Aquela
vez foi diferente de todos os dias. As pessoas conversaram, fizeram novas
amizades e não eram mais de diferentes tipos: eram amigos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário