Inspirado em Mercedes
Sosa
Gostava de
brincar sentada no chão, no meio da sala. Nos dias quentes, o contato frio do
piso de madeira com a minha pele, era prazeroso. Ainda lembro do cheiro da cera
que minha mãe passava para dar brilho no assoalho.
Meu pai
estava na sua poltrona assistindo a um programa de variedades. De repente ouvi
uma voz forte, uma canção acompanhada de tambores e flautas, ecoou na sala.
Lembro que os pelos de meu corpo arrepiaram. Olhei para a televisão e vi uma
mulher taluda, de cabelos pretos e lisos, com cara de índia, a cantar e tocar o
seu tambor.
Levantei-me
do chão e cheguei perto da televisão para ouvir melhor. Meus pés começaram a
dançar e pular ao som daquela música de tambores e flautas. Quando estava no
auge da dança, meu pai incomodou-se com a minha movimentação em frente à tv e
falou:
-
Fica quieta guria! Me deixa ouvir a Mercedes Sosa.
-
Quem é ela pai? Perguntei.
-
É uma grande cantora sul-americana. A música dela
estava proibida pelos generais. Nem acredito que está na televisão.
Não entendi muito bem, mas achei melhor não insistir
no assunto. Passei o resto do dia com aquela música na minha cabeça. Cantei o
ritmo repetidas vezes porque me dava vontade de dançar.
Cresci com Mercedes Sosa em minha mente e coração.
Sempre reconhecia às músicas dela por causa da batida dos tambores. Mais tarde,
já adulta, comecei a ouvir as letras, sempre de cunho social, que me
impressionavam pela sinceridade. Até hoje os meus pelos arrepiam quando ouço La Negra cantar.
Estou trabalhando em uma oficina literária com contos sobre as estórias do Conesul. A coletânea da oficina se chama "Esta Terra Tem Dono" e será o primeiro livro trilingue do Brasil. Ele será editado em português, espanhol e guarani. Convido meus seguidores desde já para o lançamento na Feira do Livro de Porto Alegre. Informarei a data oportunamente.
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